Vejamos alguns comentários de Plinio Correa de Oliveira a respeito da Catedral de Notre Dame
Notre-Dame
de Paris. Diante dela, às vezes emudecemos de admiração. A catedral é bela em
cada um de seus pormenores. Se considerarmos os três portais do primeiro
pavimento do edifício, vemos lindíssimos arcos ogivais, profundos, indicando
bem a espessura das paredes. Em cada portal, ao longo de toda a espessura, de
um lado e de outro, aparecem esculpidos episódios da História Sagrada. Na parte
de cima, uma fileira de imagens de reis do Antigo Testamento.
Para se
ter ideia de como a catedral é esplêndida nos seus vários pormenores,
imaginemos que não existisse a parte superior, acima das imagens dos monarcas.
Ainda seria um bonito monumento. Ou pensemos num edifício formado pela grande
ogiva central, pelas duas laterais e as menores que estão em cima, constituindo
uma espécie de colunatas de esguias, delicadas e entrelaçadas ogivas: sem
dúvida comporiam uma belíssima fachada lateral de qualquer igreja.
Imaginemos,
ainda, cada uma das pontas de torre transformada num oratório e posta no solo.
Seria lindo! Na catedral, aparecem como três belezas superpostas. Mas o tato
francês, o tal “charme mais belo que a beleza”, os fez sentir que, isolados,
algo ficaria faltando. Então, atrás ergue-se uma cúpula e, no alto desta, uma
flecha. A famosa flecha de Notre-Dame que confere o arremate, o toque de
leveza, de graça, de grandeza, às torres que não foram acabadas.
Com
efeito, no projeto original essas torres elevar-se-iam mais alto. Porém, o
estilo gótico esmoreceu sob o sopro da Renascença e do Humanismo. Em consequência,
as torres de Notre-Dame ficaram limitadas ao tamanho que têm hoje, embora
repletas de encanto e de beleza.
A meu
ver, uma muito agradável impressão que se tem ao contemplar a catedral resulta
do contraste entre a altura e a largura. Ela é esguia, muito mais alta do que
larga, mas não pode ser chamada de um edifício frágil. Graciosa, leve, possui
entretanto um quê de fortaleza, absolutamente incontestável, falando-nos da
plenitude do espírito da Idade Média: hierático, sacral, hierárquico, ordenado,
todo voltado para o que há de mais alto, em que a maior seriedade se compagina
bem com a graça mais suave e com a delicadeza mais extrema. Tal se nota, por
exemplo, nas colunas e nos vitrais.
Numa
palavra, os mais belos aspectos da alma católica aparecem a todo propósito, em
todos os ângulos da catedral.
E eu me
pergunto: é ou não verdade que, ao nos maravilharmos com Notre-Dame, temos
também a impressão de que cenas desenroladas ali ainda permanecem vivas? E que,
do alto do lugar onde está entronizada, a imagem de Nossa Senhora — cuja cabeça
tem como auréola a própria rosácea central — sorri para os seus filhos que
transitam pela praça?
Sim, um
sorriso que manifesta o contentamento da Virgem Santíssima com uma Cristandade
que, afinal, era e ainda é o reino do Filho d’Ela. E, de fato, há qualquer
coisa da glória da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo no ar triunfal da
Catedral de Notre-Dame de Paris.
Plinio
Correa de Oliveira – Extraído de
conferência em
11/1/1989
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