Embaladas por águas tranquilas e misteriosas, as gôndolas parecem dormitar à espera de passageiros. Formas características, pontas elegantes, detalhes pitorescos. Gôndolas vazias, amarradas a estacas de formas incertas, numerosas, como se fossem uma floresta de linhas e de silhuetas refletidas, plantadas no mar raso.
Neblinas indefinidas, brumas matutinas, vespertinas, que a tudo envolvem: barcos, torres, homens. Lindos revérberos sob cuja luz se revelam lances de muros, arcarias góticas, jogo de cúpulas.
Nuvens de um avermelhado que se mistura com o plúmbeo profundo do céu, desenhando no firmamento uma espécie de mapa da cidade que se estende na terra. Nas pontas das torres, das cúpulas, cruzes e ornatos tão leves e tão poéticos que, ao soprar o vento, dir-se-ia começarão a se agitar e a tocar música nos ares de Veneza!
Prédios que se empilham uns sobre os outros, dando a ideia de construções feéricas e, mais uma vez, roçados pela névoa ligeira. Comprazem-se nas auroras lindas, mas são igualmente sensíveis aos encantos do ocaso e da noite.
As águas venezianas refletem como que ao infinito as velas, as quilhas e os adornos das embarcações que sobre elas repousam. E então parecem, já não água, mas vidro, cristal, espelho imobilizado. Águas sempre portadoras de novidades, da famosa laguna de Veneza.
Casas velhas e escalavradas. Pequenos (e outrora) palácios, onde se nota habitar uma gente empobrecida, sim, mas que sabe conservar o atrativo do seu passado.
Na verdade, tudo isso possui uma beleza e uma poesia que me levariam a contemplá-lo por um longo tempo, dizendo: “Mais formosura do que isso existe, e muita, na própria Veneza. Porém, dá-se aqui como quando saboreamos um pão delicioso e algumas migalhas dele caem sobre a toalha da mesa, e temos um gosto peculiar em comer a migalha, como quem degusta, num só pedacinho, o pão inteiro. Pois bem: essas são migalhas do incomparável esplendor de Veneza...”
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