• domingo, 21 de setembro de 2014

    Duas formas de grandeza

    Basílica de São Pedro e Catedral de Notre-Dame de Paris, duas igrejas completamente diferentes. Na primeira, um esforço de piedade, a criatura tenta elevar-se até o Criador, na segunda, é o Criador quem desce até a criatura
    Na minha ótica de homem do século XX, com os padrões deteriorados pelos apartamentos de São Paulo, quando entrei pela primeira vez na Basílica de São Pedro, depois de vê-la pelo lado de fora, tive uma certa surpresa, julgando-a muito menor do que eu a imaginava.
    Isto se deve ao fato de que, na construção da Basílica, Michelangelo teve o cuidado de ocultar, tanto quanto possível, o tamanho do Cupolone. Naquele tempo, onde o materialismo ainda não tinha feito tantos progressos, era bonito realçar a proporção e esconder o tamanho. Porque o tamanho é matéria, e a proporção é espírito. O espírito deve dominar sobre a matéria.
    Houve uma tal preocupação em disfarçar a altura dele, que eu não notei ser o duomo de São Pedro tão alto quanto o Martinelli, o maior edifício de São Paulo daqueles tempos.
    Porém, a Basílica de São Pedro é toda influenciada pela Renascença. E, portanto, do ponto de vista artístico, ela não é senão uma reapresentação de elementos de beleza clássica, apresentados pelas gerações que vieram depois do Renascimento.
    Ora, isso não tem, absolutamente, o espírito católico da Idade Média.
    Nota-se, claramente, que a Basílica de São Pedro é uma igreja muito bem composta, cuja pompa está à altura do que os homens podem dispor para venerar a Sé de Pedro e ser, nesse sentido, a primeira igreja da Cristandade. Mas, de certo modo, o homem não tem ali a sensação de proximidade com Deus que há na Catedral de Notre-Dame, em Paris.
    Eu traduziria essa impressão nos seguintes termos: na Basílica de São Pedro eu vejo uma tentativa do homem elevar-se até Deus, num esforço de piedade; na Catedral de Notre-Dame, é Deus quem desce até os homens. Por causa disso, a impressão de proximidade de Deus lá é muito maior do que no próprio Vaticano.

    Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 18/5/1976

    Nenhum comentário: