A Via Ápia acompanhou a
história de Roma através dos séculos, sendo o escoadouro das riquezas do
comércio e o caminho das tropas em marcha. E, por fim, entrou para os anais da
Igreja através de um dramático episódio: o “Quo Vadis”.
“Todos os caminhos levam a
Roma”, diz o velho provérbio latino. Com efeito, no apogeu da civilização
romana, todo o mundo conhecido convergia, de alguma maneira, para a Cidade
Eterna. Dali partiam as legiões conquistadoras, e para lá escoavam os tributos
de lugares tão distantes e variados como Judeia, Britânia e Ibéria.
Inovadores e metódicos, os
romanos idealizaram diversos meios de manter a unidade dos seus domínios. Um
deles foi a construção de inúmeras estradas para ligar a capital às províncias.
Nisso revelaram-se excelentes engenheiros, pois muitas delas encontram-se ainda
em bom estado, seguras e transitáveis.
Entre estas, a mais famosa é a
Via Ápia, também conhecida como Regina Viarum (Rainha das Estradas), que foi de
fundamental importância estratégica para a supremacia de Roma nos primórdios da
República. Sua construção iniciou-se no ano 312 a.C., por iniciativa de Appius
Claudius Cæcus, censor da República e, mais tarde, cônsul. Pertencente a uma
das mais antigas famílias patrícias, a Gens Claudia, esse homem perspicaz e
empreendedor acabou por legar seu nome para a histórica estrada.
O método utilizado na construção
dessa obra-prima de engenharia é até hoje ponto de referência para obras do
gênero. Sobre o caminho de terra, colocou-se uma camada de pedras com
argamassa. Por cima dessa, assentou-se uma camada de cascalhos. Por fim, para
formar uma superfície plana, um calçamento feito de lajes tão bem ajustadas
umas às outras que, segundo se dizia, entre muitas delas não se conseguia
introduzir a lâmina de uma faca. Para escoamento das águas pluviais, a Via Ápia
era soerguida no meio e possuía canais em ambos os lados. Além disso, era
protegida por meios-fios.
A “Rainha das Estradas” acompanhou
a história de Roma através dos séculos, sendo o escoadouro das riquezas do
comércio e o caminho das tropas em marcha, fossem estas contra ou a favor da
Cidade Eterna. Durante a Segunda Guerra Mundial, ela foi intensamente utilizada
tanto pelo exército alemão como pelas forças aliadas, em ataques e
contra-ataques na disputa pela posse da Península Itálica.
Contudo, a histórica Via passou
para os anais da Igreja através de um dramático episódio, conhecido como o Quo
Vadis.
A perseguição movida por Nero
no primeiro século da Era Cristã havia sido de tal maneira terrível que o
próprio São Pedro decidiu evadir-se de Roma. Segundo uma antiga tradição, ele
caminhava pela Via Ápia quando, em determinada altura do trajeto, deparou-se
com o próprio Jesus Cristo, que vinha em sentido contrário. Atônito, o Pescador
de Homens caiu de joelhos diante de seu Mestre e Lhe perguntou:
— Quo vadis Domine? (Para onde
vais, Senhor?)
— Vou a Roma, para ser
crucificado mais uma vez...
O Príncipe dos Apóstolos
compreendeu: ante a fraqueza do discípulo que fugia do martírio, o Divino
Mestre dirigia-se a Roma para morrer em seu lugar... Tomado de vergonha e arrependimento,
São Pedro retornou à Urbe, onde foi martirizado algum tempo depois.
No local do prodigioso
encontro, ergueu-se no século IX uma pequena igreja, conhecida hoje pelo nome
de Igreja do Domine Quo Vadis. Ela foi visitada pelo Servo de Deus João Paulo
II no ano de 1983.
Assim, as gastas e históricas
pedras da Via Ápia são uma perene recordação da fragilidade do ser humano,
mesmo quando dotado de um caráter extraordinário, como o do primeiro Pontífice.
E são também marco simbólico do extremo de bondade e misericórdia de que o
Divino Salvador é capaz, por amor a todos e cada um de nós.
Revista Arautos do Evangelho ·
Janeiro 2009
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