Muitas
vezes, comentam-se belezas da Europa, como o castelo de Chenonceau, dizendo:
“Olhe que gostoso estar aqui!”
Ora,
esse aspecto agradável não é um critério profundo.
É
preciso afirmar o seguinte: “Olhe como é elevado nobre, digno, e como isso
engrandece o homem. Não parece até um mundo irreal?!” Esse mundo “irreal” é a imagem
do Céu.
Desejo de
realizar a maravilha na Terra
Deve-se
acentuar que esses são valores religiosos, por causa do aspecto simbólico que
tais coisas têm. O Paraíso celeste, considerado na sua realidade material, é um
lugar onde Deus fez coisas magníficas para o homem viver imerso num mundo da
matéria que lhe fala de Deus, enquanto sua alma goza da visão beatífica. Tão
necessário é ao homem alimentar o seu espírito com Deus, não só na consideração
das coisas diretas da Religião, mas a propósito do mundo temporal e do mundo da
matéria, que até no Céu isso vai ser assim.
Precisamos
compreender, portanto, que houve uma virtude, levada pelo europeu medieval a um
grau inimaginável, que foi exatamente o desejo de realizar a maravilha na
Terra.
Aliás,
aqueles monumentos gregos tinham isto de interessante: exprimiam o desejo de
fazer um Olimpo na Terra. As construções dos gregos são mais feitas para serem habitadas
por semideuses do que por homens. Havia uma certa ideia de fazer um mundo de
maravilha. De sorte que a Europa é uma espécie de mito realizado, e que a
Religião Católica elevou a um seminário do Céu.
A
maior maravilha da Europa, por onde propriamente era maravilhosa, não consistia
tanto no fruto produzido e deixado por ela, mas no espírito europeu, o contato com
as almas sedentas de maravilhoso, nas quais se sentia muito mais isso do que
naquilo por elas realizado, porque o efeito é sempre menor do que a causa. Os
homens e a sociedade que elaboraram essas maravilhas tinham-nas em quantidade
enormemente maior do que as coisas por eles deixadas.
Devemos,
pois, procurar conhecer essa alma e considerar tais belezas como fator de
santidade, como atmosfera orientada ao Reino de Maria, e imergir no lado
religioso da questão, porque esse é o aspecto mais profundo.
Portanto,
ver como do Sangue infinitamente precioso de Nosso Senhor Jesus Cristo, das
lágrimas de Nossa Senhora se gerou, pela correspondência à graça, um mundo inteiro
apetente disso.
Assim
nós temos a visualização completa e mais profunda, pois toca no religioso, no
sacral, reconhecendo e afirmando que nada é válido, nada é autêntico se não
brotar de uma verdadeira visão da Religião Católica, que os santos tiveram nos
seus conventos, nas suas Ordens religiosas, enfim, nas instituições da Santa
Igreja Católica.
Nessa
perspectiva, compreendemos que Versailles, por exemplo – nos seus bons
aspectos, pois ali nem tudo era bom... –, estava presente na alma de São Luís
IX, de São Vicente de Paula, que viveu no tempo de Luís XIII, dos santos que
existiram na época de Luís XIV. Porque, em seus aspectos virtuosos, Versailles
nasceu da Igreja – receptáculo e fonte de todas as virtudes – e, enquanto tal,
tinha de estar contido no espírito, na mentalidade e no modo de ser das instituições
e dos homens sagrados, que incutiram naquela gente o espírito católico.
Essa
junção entre a Europa e a Religião Católica me fala à alma até o fundo e é
indispensável para compreender a História da Igreja. Desse modo, temos uma
visão católica da Europa e uma perspectiva da Igreja meditada em função da obra
realizada por ela, o que proporciona um alargamento da própria visão da Esposa
de Cristo.
Plinio
Corrêa de Oliveira – texto extraído da Revista Dr Plinio 228.
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