• quarta-feira, 7 de março de 2012

    Igrejas do extremo sul do mundo


    A beleza natural e sobretudo os frutos apostólicos mereceram à região de Chiloé, no Chile, o nome de “Jardim da Igreja”. A comunidade cristã nativa construiu um original e admirável conjunto de igrejas de madeira.
    Os primeiros missionários jesuítas chegaram à região de Chiloé, sul do Chile, em 1608.

    Admiraram-se com a docilidade e a inclinação para as coisas de Deus daqueles 10 mil nativos que viviam espalhados em uma enfiada de vinte ilhas localizadas entre o continente e outra ilha de maior dimensão, a mesma que dá nome a toda aquela zona: Arquipélago de Chiloé.

    Como eram muitas as ilhas e povoados a visitar, os filhos de Santo Inácio desenvolveram o sistema de evangelização conhecido como “missão circular”. No mês de setembro, dois sacerdotes viajavam em precárias pirogas até a primeira comunidade. Nela pregavam e administravam os sacramentos durante três dias. Em seguida, dirigiam-se em procissão, conduzindo as imagens de santos, até o próximo povoado. E assim sucessivamente, até o mês de maio, quando o rude inverno os obrigava a regressar ao Colégio de Castro, a principal cidade da Ilha Grande. Nesse período, visitavam cerca de 80 capelas.

    Visando garantir a continuidade da evangelização — e estimular o que hoje se chama de apostolado leigo — escolhiam para cada comunidade, entre os fiéis de mais destaque na prática da religião, os líderes que ficariam como representantes dos missionários. Além de ensinar catecismo a crianças e adultos, eles se incumbiam de preparar a próxima missão.

    Essa foi uma das mais frutuosas missões dos jesuítas no Novo Mundo.

    A mansidão dos nativos, isentos de vícios graves, a calorosa acolhida por eles dispensada aos missionários e o respeito que estes haviam conquistado — aprenderam sua língua, o veliche, para melhor comunicar-se com eles — faziam aumentar a cada ano os batismos, casamentos e confissões.

    Os jesuítas chegaram mesmo a dar à região o nome de “Jardim da Igreja”, devido à rápida propagação da fé nessas pequenas ilhas repletas de bosques, cercadas de límpidas águas.

    No correr dos anos construíram-se algumas capelas simples e toscas, para acolher os habitantes e proteger do clima chuvoso as cerimônias do culto. Em geral, não passavam de um recinto de quatro paredes e um teto, nada mais. Se bem que a pobreza do lugar impedisse maiores adornos, foi possível dar-lhes um tom perfeitamente adequado ao seu elevado fim.

    Para os chilotes, a capela era a casa de Deus, de seu santo padroeiro, o local onde eles se reuniam para rezar e cantar louvores ao Senhor.

    À medida que as intempéries iam arruinando essas pequenas igrejas, as comunidades edificavam novas, de comprovada resistência.

    Em 1767, expulsos os jesuítas, os franciscanos vieram substituí-los, julgando que, como em outras partes, iriam evangelizar indígenas meio bárbaros. Para sua surpresa, em vez disso encontraram uma pequena sociedade cristã bem organizada, comunidades laboriosamente catequizadas, nas quais afloravam traços de uma cultura própria.

    Eram plantas que apenas precisavam ser irrigadas para florescerem.

    Algumas das simples, formosas e acolhedoras igrejas de Chiloé que adornam esse pequeno e original jardim da Santa Igreja, localizado no extremo sul do mundo, bem atestam como a civilização cristã faz os povos desabrocharem seus melhores lados de alma.

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