Colocadas diante de um panorama grandioso, muitas pessoas terão experimentado uma sensação que invade todo o ser e que, por momentos, causa até certa perplexidade. A inteligência, nesses instantes, transbordante de dados e informações, parece não conseguir assimilá-los com a mesma rapidez com que os sentidos os registram. Estes, por sua vez, tomados por agradável e superior bem-estar, exteriorizam-no em exclamações. E a respiração, entrecortada, revela extraordinária alegria. Uma enorme e salutar felicidade de situação toma toda a pessoa que sente inteira consonância com o que vê. Levará mais ou menos tempo para explicitar esse benfazejo estado, mas a lembrança desse momento permanecerá impressa em sua alma para sempre.
É o que frequentemente ocorre a quem tem a oportunidade de visitar o coração das Montanhas Rochosas, a espetacular cordilheira da América do Norte.
As Rochosas formam parte da Cordilheira Americana, uma sequência de montanhas que se estendem da Patagônia ao Alasca, e são cognominadas de “coluna dorsal da América”. Sua peculiar configuração, com cristas que se sobrepõem umas às outras, sugerem uma nobre emulação para ver qual se aproxima mais do céu.
O que faz com que a vista formada por esta cordilheira seja distinta daquela apresentada por outras congêneres, não são apenas as suas impressionantes altitudes — pois as Rochosas são sobrepujadas por outras cadeias famosas, como os Alpes ou o Himalaia —, mas a harmônica e majestosa disposição que os elementos terra, água e rocha tomaram ao serem aí ordenados pelas mãos do Criador.
Formando molduras para as águas verde-azuladas do Louise, um dos diversos lagos situados no Parque Nacional de Banff, no Canadá, os altos picos refletem-se sobre esta cintilante esmeralda líquida, cujas cores, belas e vívidas, levam muitas pessoas a considerá-las irreais. Esse raro fenômeno é devido à presença de quantidades significativas de partículas rochosas trazidas ao lago desde o alto dos glaciares, resultando numa tonalidade que encontra semelhança na plumagem de colibris e pavões.
O céu, como que em disputa com os lagos, ostenta um colorido azul-safira intenso, e forma o fundo de quadro ideal para o magnífico panorama. Às vezes, as montanhas estão encobertas por densas formações de nuvens e, ao observador colocado a seus pés, parecem cortadas ao meio por grossos novelos de lã. Porém, ao alpinista que se encontre acima deste inusitado lençol, os cumes parecerão um arquipélago espalhado em meio a um mar branco.
O homem que considere enlevado este espetáculo de elementos naturais, e atente aos seus próprios movimentos interiores, procurará uma explicação para a impressão de sentir-se um só com o quadro, desejoso de unir-se a ele.
Quando, no primeiro dia, a terra foi adornada com cordilheiras e montanhas — os gigantes do reino mineral — que aspecto do seu Criador foi nelas simbolizado? Ao modelar esses cenários montanhosos, talvez Deus tenha tido como principal intenção oferecer-nos a oportunidade de meditar a respeito de Sua grandeza e majestade infinitas.
Ora, o bem-estar do homem diante de uma paisagem assim, na realidade, é expressão, embora subconsciente, da aspiração ao infinito inscrita em seu coração.
A admiração do grandioso que o circunda estimula em sua alma o desejo do maravilhoso, o qual, por sua vez, desperta o anseio do Céu. E a vontade de unir-se ao que o enleva, ou de ali permanecer para sempre, é, no fundo, um desejo de unir-se a Deus, representado naquele ponto da criação. É como se dissesse: “Deste lugar não quero sair, porque Deus habita aqui”.
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