• segunda-feira, 18 de junho de 2012

    Tipicamente brasileiro

    Deus multiplicou as nações sobre a face da terra, para melhor espelharem suas qualidades infinitas. Sabendo admirar as qualidades de cada povo, amamos a Deus, seu criador.
    Um amigo paulista — professor catedrático de História — recebeu certa vez em sua casa um visitante francês. Era a primeira vez que este tomava contato com o Brasil. Como é natural, o anfitrião procurou ser o mais amável e acolhedor possível, de acordo com as leis da hospitalidade, que aqui não são escritas em papel, mas no coração. Não há quem visite o Brasil e não se sinta bem recebido; e, ao deixá-lo, não experimente uma pontinha daquele sentimento exclusivamente luso-brasileiro: as saudades...
    Meu amigo mostrou, pois, ao visitante sua residência. Pessoa de muita fé, cultura e requintado bom gosto, havia decorado primorosamente a casa. À medida que ia mostrando este ou aquele detalhe, fazia notar sua preferência pela cultura francesa, a fim de que seu visitante se sentisse mais à vontade.
    De fato, um dos salões tinha móveis Luís XV, os de outro eram estilo Império, e algumas peças eram de artistas franceses. No final, saltou dos lábios do visitante, nos quais se desenhava um sorriso malicioso, a pergunta aguçada:
    — Mas... professor, o senhor não fez um salão em estilo tipicamente brasileiro?
    O nosso anfitrião compreendeu bem a perplexidade de seu visitante francês... tipicamente francês! E com um sorriso afável respondeu:
    — Exatamente, uma das características do espírito tipicamente brasileiro consiste em admirar e assimilar as qualidades dos outros povos. Por isso, o senhor acaba de ver uma casa tipicamente brasileira.
    É que, para o brasileiro, que acolhe em seu país-continente filhos de quase todas as nações da terra, cada povo é como uma pedrinha colorida de um magnífico caleidoscópio (o conjunto das nações). Sabendo admirar as qualidades de cada povo, amamos a Deus, seu criador.
    * * *
    Por vezes, essas qualidades são antagônicas e seria quase impossível representá-las num só povo. Por isso, Deus multiplicou as nações sobre a face da terra, para melhor espelharem suas qualidades infinitas.
    Exemplo disso são as duas cidades que o leitor pode apreciar nas fotos.
    A primeira é da Alemanha: a bela cidade de Rothenburg. Em suas construções, perfeitamente conservadas, como se tivessem sido concluídas ontem, na limpeza das ruas, na decoração floral das janelas, sobressai o senso de ordem.
    Nos povos germânicos, se diria que esse senso é quase mais forte que o próprio instinto de conservação: o alemão dá a vida para defender a ordem. E o que em qualquer ser humano é natural, ou seja, a tendência à desordem em decorrência do pecado original, nos alemães parece não existir, tão forte é neles o amor à ordem. Para eles a disciplina não exige um esforço, pelo contrário, lhes facilita o bem-estar, torna a vida mais aprazível e os ajuda a subir até Deus, que tão admiravelmente ordenou todo o universo.
    A segunda foto é de uma cidade medieval italiana, encantadora tanto por sua história como pelo pitoresco de suas ruelas tortuosas, de seus becos, ladeiras e escadarias gastas pelos passantes: Genazzano. É em seu coração que se localiza o santuário da Mãe do Bom Conselho, onde o milagroso afresco acolhe com doçura maternal o peregrino.
    Dir-se-ia que nessa cidadezinha todos se despreocuparam da conservação dos edifícios e deixaram que o tempo marcasse implacavelmente as paredes e gastasse as pedras.
    Mas, haverá “pintura” mais genial para uma construção multissecular do que essa pátina prestigiosa que os ventos e tempestades vão depositando sobre as paredes? Imagine o leitor que o proprietário dessa pitoresca casa mandasse reformá-la. Ela perderia boa parte de seu atrativo e deixaria de ser uma construção antiga, carregada de legenda, para ser apenas uma casa velha, renovada e pintada com tinta fresca.
    Esse senso da História do qual é dotado o italiano, que vai acumulando em suas cidades as eras da humanidade, quase até tocar nos primórdios da civilização, constitui a moldura própria para conter em si a Cidade Eterna, onde o Sucessor de Pedro firma sua cátedra infalível.

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