Com sua típica
silhueta de navio que parece desafiar os ventos e as tempestades, o Alcácer de
Segóvia evoca os predicados das almas verdadeiramente católicas.
Em pleno coração da
Península Ibérica, no extremo oeste da cidade velha, se eleva com régio
esplendor o multissecular Alcácer de Segóvia. Encravado numa afilada rocha
entalhada pelos rios Clamores e Eresma, desafiando os ventos e os séculos,
domina a paisagem circundante com sua altaneira silhueta. O nome denota sua
antiga origem, pois a palavra alcácer provém do vocábulo árabe al qasr que
significa castelo. Ele já existia, com efeito, antes da cidade ter sido
reconquistada por Alfonso VI, e serviu de morada para o seu bisneto Alfonso
VIII, o vencedor da batalha das Navas de Tolosa. Foi restaurado e ampliado por
diversos reis de Castela, entre os quais Alfonso X o Sábio e João II, este
último responsável pela construção da imponente torre de menagem que domina o
edifício.
No século XV, o
Alcácer desempenhou papel preponderante na ascensão ao trono de Isabel a
Católica como rainha de Castela e Leão. Aí ela se casou com Fernando II de
Aragão e, quase um século mais tarde, o prédio foi cenário das bodas de Ana
d’Áustria e Felipe II, rei ao qual devemos a configuração arquitetônica
definitiva, que hoje contemplamos.
Reflexo da eternidade
e fruto dos séculos, sua característica silhueta de navio parece desafiar com a
sua altiva proa ventos e tempestades. Aliando força e elegância, ele evoca os
predicados das almas verdadeiramente católicas: estabilidade, beleza, solidez,
intrepidez e vistas postas na eternidade.
O Alcácer de Segóvia
representa, sem dúvida, um exemplo prototípico das belezas criadas pela união
entre a arte e a natureza. Se as suas bases estão bem fincadas na pedra, as
esguias torres apontam para o alto. Dir-se-ia obra de um Anjo descido do Céu
que tocou na montanha, transformando as rochas brutas nesta obra-prima modelada
pelo homem através dos séculos.
Pensamentos como
estes povoavam a mente do fotógrafo enquanto ascendia até o Mirante dos Dois
Vales, numa luminosa tarde de abril. Após alguns dias de tormentas e clima
instável, o céu segoviano mostrava-se dominado por extensos conjuntos de
nuvens, que desfilavam com passos majestosos de etérea grandeza. Foi nessas
circunstâncias que nasceu a imagem apresentada nesta página, e que temos a
alegria de partilhar com os nossos leitores.
Revista Arautos- jan 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário