A primeira impressão
causada ao ver fotografias do castelo de Coca é que se trata de uma coisa
irreal. Tem-se vontade de dizer: “Isto não existe.”
O artista soube
fotografar o castelo numa hora de um contraste muito feliz: o céu sombrio e o
castelo muito iluminado. Se o céu fosse azulzinho e não ameaçante, o castelo
perderia algo.
Mas não se trata de
um sombrio qualquer, pois nota-se no céu uma parte que está luminosa. Dir-se-ia
que um raio acabou de passar por lá como um corisco, deixando um resto de luz a
qual o ilumina tão magnificamente.
Que castelo! Tem-se a
impressão de que é tão grande, têm tantas torres e muralhas, tantos salões e
espaços, que se diria ser um castelo incomensurável, de conto de fada.
Imaginemos o viver
delicioso dos que nele habitam. Capela interna magnífica e grande como uma
catedral; estupendas salas de refeição, de recepção, de trabalho, de reuniões
políticas; dormitórios extraordinários; todas as formas de conforto do tempo em
que esse castelo foi construído, para um número indefinível de personagens.
Personagens nobres, vestidos com riqueza, de maneiras requintadas; quando se
encontram nos corredores saúdam-se com cerimônia e fazem grandes reverências, e
ao mesmo tempo cochicham e fazem política uns para os outros, ou contra outros,
no vai-evem da vida de todos os dias.
Realmente, esse
castelo foi construído com uma preocupação artística muito apurada. Por
exemplo, ele é marcado por umas listas brancas em toda a sua extensão: são
pedras de outra qualidade, que formam uma espécie de alternância e concorrem
para sua beleza.
Observado o castelo,
nota-se em sua parte central um torreão, que é um maço de torres coligadas
entre si. Diante desse torreão, percebe-se um pátio enorme, cercado por altas
muralhas e grandes torres em cujas extremidades há um conjunto de torres
especial que faz uma espécie de equilíbrio com o do centro. Depois, isso se repete,
para se chegar ao pátio externo do castelo.
Parece que ele está
separado por um valo de água ou um rio.
O castelo nos fala,
sem dúvida, de uma requintada vida nobre com as mil delicadezas da civilização
cristã. Entretanto, estas se deterioram quando existem num clima sem heroísmo.
Ora, esse castelo é feito para combater. É uma fortaleza calculada para
resistir a um cerco tão longo que as tropas do adversário vão ficando cada vez
menos numerosas e acabem desistindo do ataque. Assim, os assediados podem
mandar avisar os aliados, para que venham em socorro deles.
Esse castelo é tão
enorme que quase não se imagina como uma tropa possa cercá-lo inteiro; sempre
fica com uma portinhola livre para saírem os mensageiros ou entrarem os
aliados. É inconquistável ou muito difícil de conquistar. Quando os adversários
eram tão numerosos que conseguiam fazer o cerco do castelo, como o castelão se
defendia? Mandava um aviso aos seus aliados por meio de pombo-correio, solto de
uma das mais elevadas torres, a fim de levantar voo bem alto e não ser atingido
pelas flechas do adversário. Numa das patinhas, levava amarrada por uma pequena
argola, uma mensagem assinada pelo senhor deste castelo para algum aliado dele.
Às vezes os castelos
muito seguros tinham ainda um ou vários subterrâneos, que conduziam a lugares
tão distantes, que o sitiante desconhecia: uma gruta, onde de repente se movia
uma pedra e saía um mensageiro, rápido como um corisco; uma árvore, várias
vezes centenária, na qual se tinha aberto uma saída de onde saltava um homem e
corria levando um aviso. Em alguns casos, esses locais eram guarnecidos por um
vigilante oculto, de maneira que se o adversário quisesse entrar ali, de
repente uma flecha o atingia pelas costas e ele morria.
O sistema de defesa
do castelo era o seguinte:
No primeiro plano se
vê uma série de muralhas, no alto das quais devemos imaginar, nos grandes dias
de cerco, arqueiros que atiravam flechas sobre os mais próximos inimigos; às
vezes eram setas incendiárias que queimavam as pessoas atingidas; ou, lançadas
na retaguarda onde estava o nobre que dirigia o assalto, dificultavam a
manutenção do ataque. Se porventura o sitiante conseguisse ultrapassar a
primeira muralha, teria depois outras batalhas diante da segunda e por fim
frente à terceira. De maneira que eram três guerras concêntricas.
Ora, os que
assaltavam o castelo eram sempre pessoas que vinham de outras regiões. Os
habitantes do lugar não lhes davam comida, indicavam-lhes caminhos errados. À
noite, quando os sitiantes dormiam, a população ateava fogo em suas tendas.
Durante o dia, quando os primeiros se apresentavam para combater, ficavam
expostos ao ar livre enquanto que os sitiados lutavam detrás de muralhas.
Compreendemos assim que um castelo destes é uma potência.
Da ideia de resistir
sempre, e com coragem, provém um certo ar heroico deste castelo e que constitui
o pináculo da sua elegância.
Uma das melhores
definições da elegância, talvez seja esta: a leveza e a distinção do guerreiro
quando descansa. Quem não é batalhador e polêmico, não tem verdadeira
distinção, nem elegância. Aqueles nobres que lutavam assim contra as investidas
maometanas, fortemente apoiados por seus camponeses nos quais eles viam filhos
e que os tratavam como pais, fizeram, realmente, a defesa da Espanha e
extirparam na Europa o perigo muçulmano.
Plinio Correa de
Oliveira – Extraído
de conferência
de 5/5/1984
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