“Ave César! Os que
vão morrer te saúdam!”. Durante cinco séculos esse brado soou nas arenas do
anfiteatro que passou para a História, conforme as palavras do Bem-aventurado
João Paulo II, como “o trágico e glorioso monumento da Roma Imperial,
testemunha muda do poder e do domínio da vida e da morte”: o Coliseu.
Suas proporções e
estrutura revelam as características do gênio romano, capaz de empreender obras
de grande envergadura sem descuidar dos aspectos práticos e ornamentais. Três
andares de arcadas distribuíam arquitetonicamente os espaços para dar uma
sensação de leveza. Oitenta portas permitiam o escoamento, em poucos minutos,
de seus mais de cinquenta mil espectadores. Uma imensa cobertura retrátil,
manobrada por homens da marinha romana, protegia a multidão do sol e da chuva.
Sob a vasta arena encontrava-se um complexo de túneis, compartimentos e jaulas
onde eram alojados gladiadores, condenados à morte e feras. Havia nele
inclusive ascensores que içavam homens e feras para a arena.
Gastaram-se oito anos
nessa grandiosa construção, na qual trabalharam mais de dez mil escravos, em
sua maioria hebreus aprisionados por Tito depois da destruição de Jerusalém.
Sua inauguração, no ano 80, consistiu numa série de espetáculos que se
prolongaram por cem dias, durante os quais morreram cerca de dois mil
gladiadores e mais de cinco mil animais selvagens.
Desde então, os
sucessivos imperadores empenharam-se em proporcionar ao povo “jogos”, como eles
os chamavam, cada vez mais aparatosos e sanguinários. Assim, o Coliseu
tornou-se célebre não só por sua beleza e magnificência, mas também pela
crueldade de seus espetáculos.
* * *
Entretanto, não foi
principalmente por isso que o Anfiteatro dos Flávios alcançou glória
imorredoura. Terremotos, guerras, retirada dos mármores travertinos do qual era
revestido, e por vezes saques, despojaram-no de seu esplendor original, e hoje
dele não restam senão ruínas. Mas quanta eloquência naqueles tijolos desnudos!
É impossível a
alguém, com espírito de Fé, entrar no Coliseu sem ser tomado por uma sensação
de respeito e veneração pelos milhares de mártires que ali derramaram seu
sangue em união com a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Durante três séculos
a Igreja sofreu por parte do Império Romano uma atroz perseguição. E o sangue dos
mártires — “semente de novos cristãos” — correu abundante em vários pontos do
vasto domínio dos Césares. Heróis da Fé e do Amor a Jesus Cristo, eles venceram
pacificamente aqueles que pela violência haviam subjugado inúmeros povos.
Mártires célebres nos
anais da História, como Santo Inácio de Antioquia, ou anônimos heróis da Fé,
todos deram provas de fortaleza e fidelidade que suscitaram muitas vezes a
admiração dos próprios algozes e levaram à conversão inúmeros espectadores.
Embora alguns, no
momento de enfrentar a morte, fossem tomados pelo medo — aliás, tão explicável
— os cristãos se encorajavam mutuamente, e se tornavam ainda mais unidos na
hora do sacrifício supremo do que na vida cotidiana. Caminhavam para o suplício
levando no coração a paz que Cristo lhes havia prometido.
Assim, ao testemunho
da palavra acrescentavam outro muito mais significativo: o do sangue, que
solidificou o Cristianismo nascente. A religião que suscita seguidores com tal
coragem e serenidade só pode ser a verdadeira! — exclamavam os pagãos.
Nos mártires, as três
virtudes teologais brilhavam com um fulgor inigualável: uma Fé inquebrantável
em Jesus, uma esperança total na Promessa e uma caridade levada até o auge da
entrega de si mesmo.
Ao recordarmos os
mártires e o seu importante papel histórico na expansão da Fé por todo o mundo,
acode-nos ao espírito a certeza de que o seu sangue, o seu sacrifício e o seu
exemplo são a verdadeira glória do Coliseu, onde, bem dizia o Prof. Plinio
Corrêa de Oliveira, “um grande ideal de beleza ainda refulge naquelas pedras
mortas”.
Revista Arautos n.115 jul 2011
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