• sexta-feira, 9 de setembro de 2011

    Castelo de Chambord

    Ápice da cultura
    Não raras vezes nos deparamos com tentativas de definir o significado da palavra “cultura”, sem que se tenha a elevação de pensamento religioso para entender tratar-se ela do conhecimento global que o homem deve adquirir sobre o universo. Conhecimento este, acompanhado de uma sensibilidade a respeito das coisas da criação que não se verifica igual para todos. Antes, comporta certa acomodação, determinados matizes, dependendo do indivíduo, da família, da região, do país, constituindo uma visão própria, característica — embora sempre objetiva — do que são os elementos componentes do universo e da maneira como refletem a Deus.
    A verdadeira cultura seria, portanto, esse conjunto de conhecimentos, mentalidades e sensibilidades incidindo sobre a realidade criada, sob o influxo de uma postura fundamentalmente religiosa. Destarte, a ordem temporal não pode ser dada como bem considerada a não ser à luz das reflexões católicas, assim como a religião católica e a ordem espiritual não serão bem empregadas se não auxiliarem o homem a formar uma noção civilizada do universo.
    Portanto, embora se admita que essa cultura e as noções da beleza da criação que ela traz consigo possam ser analisadas sob o ponto de vista natural, com base em regras da estética, etc., acima disso há algo que nos toca mais intensamente, e que constitui uma das razões mais profundas da fé do católico.
    É dado a qualquer católico possuir um acabamento cultural, isto é, uma vasta compreensão do universo, pela qual percebe a presença da graça em inúmeras coisas, às vezes não diretamente ligadas à religião, nas quais entretanto lateja a raiz religiosa. E sentindo a raiz religiosa, a pessoa, com a “fé do carvoeiro”, brada: “eu creio!”
    Um exemplo disso é o Castelo de Chambord, na França. Contemplando-o somos atraídos, não pelos aspectos majestosos da construção renascentista, mas pelos imponderáveis ali presentes da França de Clóvis, de Saint-Remy, de Santa Clotilde, enfim, de todas as Franças gloriosas e heróicas, que marcaram a história do mundo.
    É a raiz religiosa percebida em inúmeros monumentos como o Castelo de Chambord, e que nos proporciona essa superior compreensão da criação. Esta compreensão, creio eu, é o ápice da cultura.

    O que tem o castelo?
    Proporções muito bonitas e um universo de chaminés de tamanhos variegados, surdindo como champignons por toda parte, numa verdadeira feeria de pequenas cúpulas e torres, algumas maiores, outras menores, causando a impressão de que um certo húmus passou do solo para o castelo, e deste para o ar. Esse húmus, indescritível, é o responsável pela grande fantasia que existe em Chambord, emoldurada por uma regra, uma linha e uma harmonia que nos deixam encantados.
    De vez em quando, o silêncio daqueles instantes era interrompido por diferentes piados de pássaros. Ora era um longo trinado, como se do fundo dos séculos algo dissesse: “Eu ainda vivo!” Ora era uma ave que, perseguida por outra, exalava um grito de desespero, atraindo nossa atenção para uma espécie de pungente e oculto drama que se desenrolava no meio daquele arvoredo.
    Dali a pouco os pássaros emudeciam, o silêncio se recompunha em torno do castelo, e Chambord continuava seu velho sonho, triste, digno, seguro de si mesmo e abandonado.
    E as penumbras do entardecer, e as derradeiras incidências de um lindo crepúsculo, tremeluzindo sobre um extenso gramado de relva selvagem, mal plantada mas que deveria ser assim — tudo se tornava úmido de absoluto, impregnado de graças celestiais.
    Sim, mais uma vez é a graça que nos faz admirar em Chambord o que, sem o auxílio dela, não nos seria perceptível. São expressões do castelo, são impressões e sentimentos que ele só transmite a quem é favorecido com essa assistência sobrenatural. Vislumbrar a graça como uma luz acesa no interior de Chambord. O próprio castelo seria o abat-jour, esplendoroso, extraordinário, porém o mais aprazível era considerar essa luz celeste que acentua sua inenarrável beleza, sua tranquilidade recolhida, sua majestade.
    Era impossível que Chambord fosse tão belo, tão perfeito, e que Deus não estivesse presente ali. Era impossível que aquele castelo possuísse essa perfeição e essa beleza, se estas não fossem fruto das lágrimas de Maria e do preciosíssimo sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.

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