• sábado, 12 de novembro de 2011

    Le Pont Neuf

    Sob as luzes douradas de um entardecer em Paris, Le Pont Neuf ostenta seus vigorosos arcos acima das tranquilas águas do rio Sena
    Dir-se-ia mais um dos atraentes aspectos da Europa de antigos tempos. Mais uma ponte, bonita como tantas outras que por lá construiu o engenho humano. Comum, portanto, para os padrões do Velho Continente.
    Porém, Le Pont Neuf (a Ponte Nova), que transpõe o poético rio Sena na capital francesa, poderia dar acesso a um faustoso castelo. Porque, apesar de erigida com uma pedra tão banal como é o granito, suas linhas e seu traçado artístico lhe conferem uma grandeza que a torna venerável.
    Extremamente larga, ela se estende sobre arcos ladeados por grossas colunas, além dos sustentáculos em forma de braços que concorrem para ampará-la na sua longa arquitetura. Os arcos se repetem com uma seriedade e distinção completas. São dignos, sisudos, pesados e muito profundos, como que compenetrados da grave missão de escorar ponte tão extensa e vigorosa. Vigor e extensão que, a quem passa de barco sob ela, dão a impressão de se estar atravessando a espessa muralha de um castelo mítico.
    Nela não se vê nenhum brilhante, nenhuma safira. Raros enfeites. Foi construída com parcos recursos financeiros. Pouco dinheiro entrou na sua edificação. O que entrou, pois? A arte. Mas, arte em que sentido? Alma. E alma em que sentido? Notam-se ali restos da seriedade austera, firme e forte da Idade Média.
    Por que firmeza e força?
    Simplesmente porque a ponte enfrenta uma série de obstáculos. Em geral, ela se ergue sobre um fundo de leito viscoso, e precisa deitar as garras por baixo do lodo, no terreno firme, a fim de possuir solidez. Por outro lado, carrega um peso muito grande: o da sua longa plataforma, acrescido do fardo que representam tudo e todos que sobre ela passam. Ela tem de ser tal que, se a imaginarmos repleta de gente ou de veículos numa hora de trânsito muito obstruído, isto não lhe traga o menor problema. Le Pont Neuf os sustenta com seriedade e indiferença.
    Ora, a seriedade indiferente a obstáculos, que agarra as dificuldades, empunhando-as e impondo-se a elas, é o próprio aspecto da alma católica dotada da virtude da fortaleza. De outra parte, a regularidade dos arcos e das linhas da Pont Neuf nos fala de temperança, a qual é regular em tudo. Assim, nesse lindo monumento da Cidade Luz, vemos simbolizadas de modo magnífico duas virtudes cardeais.
    Há, portanto, uma beleza moral por detrás dessa ponte.
    Há a formosura da alma humana e o pulcro do sobrenatural.

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