• quinta-feira, 5 de abril de 2012

    Portas da terra, Porta do Céu

    Portas, as há de múltiplas formas e variadas espécies, e são sempre um elo entre ambientes diversos. Haverá alguma pela qual se entre no Céu?
    Elas protegem as casas, garantem segurança e, ao mesmo tempo, ornam o ambiente, ou se abrem para nos dar a agradável surpresa da visita de um amigo. Falamos, naturalmente, das portas.
    Sua variedade é quase infinita: desde pequeninas portinholas que possibilitam um olhar desconfiado por detrás de robusta estrutura, até majestosos portais de luxuosos palácios, pelos quais passam régias comitivas. Há portas de madeira rústica, construídas com uma simplicidade única, e outras de fina madeira artisticamente entalhadas.
    Algumas se encontram fechadas, convidando-nos a imaginar segredos cuidadosamente ocultos por detrás delas: serão conversas para fechar importantes negócios, confidências sussurradas ao ouvido, ou solenes reuniões de personalidades que podem mudar o rumo da História... Quão grave mistério guarda, por exemplo, a porta da Capela Sistina quando é fechada para um Conclave: Quem será o próximo sucessor de São Pedro?
    Mas, seja qual for seu formato, tamanho ou decoração, sua função é sempre a mesma: ser um elemento de comunicação entre ambientes diversos. Ao sair de casa para ir ao trabalho, passando do conforto doméstico para as vicissitudes da labuta diária, o homem transpõe uma porta. Antes de entrar na casa de um amigo, é preciso aguardar que se abra uma porta. E ao deixarmos o ambiente ruidoso de uma rua para nos recolhermos num templo, também atravessamos uma porta.
    A arte sacra fez as igrejas de formas múltiplas e variadas. Algumas têm a simplicidade do românico ou da arte visigótica; outras são ornadas com a superabundância própria do barroco; mas as portas de todas elas têm algo que convida suavemente o transeunte a penetrar no seu interior. São um cartão de visita.
    Em geral, as portas principais das igrejas dão abertura para uma espécie de vestíbulo, ultrapassado o qual os fiéis entram no santuário propriamente dito. Essa transição entre a rua e o interior do templo sagrado é muito conveniente, pois o recinto intermediário atua como um preâmbulo que ajuda a alma a adaptar-se para uma nova perspectiva, a da oração.
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    Mas para a piedade católica, tão rica em simbolismos, há também uma porta pela qual passamos da vida terrena à celeste. Ela é belíssima, valiosíssima e inigualável, toda feita de ouro, e nos convida constantemente a entrar no Céu.
    Afirma São João de Ávila: “Se vemos uma bonita porta, bem edificada, muito rica, dizemos: ‘Oh! Santo Deus, que valiosa porta! Quão bela deve ser a casa que tal porta tem!’ E logo nos assalta o desejo de entrar e conhecer essa residência. Porta do Céu é Maria. Se à glória havemos de ir, por esta porta devemos entrar”.1
    E Santo Antônio Maria Claret acrescenta: “Quando a Igreja diz que esta incomparável Rainha é a porta do Céu e a janela do Paraíso, nos ensina com essas palavras que todos os eleitos, justos e pecadores, entram na mansão da glória pela mediação de Nossa Senhora, com esta única diferença: os justos entram por Ela como pela porta aberta; mas os pecadores [arrependidos], pela janela que é Maria. Portanto, depois de Jesus, n’Ela devemos pôr toda a nossa confiança e esperança de nossa eterna salvação”.2
    1 San Juan de Ávila . Obras Completas. Madrid: BAC, 1953, t.II, p.980.
    2 Santo Antonio Mar Ía Claret . Escritos Autobiográficos y Espirituales. Madrid: BAC, 1959, p.771-772.

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