• segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

    Bom gosto...

    Embora  se  trate  de  um  tema  delicado e pouco passível de  consenso, o bom gosto envolve, contudo, uma circunstância que  eu diria indiscutível. Explico.
    Quando  consideramos  as  nações  nas  quais  floresceram  renomados  sistemas  artísticos,  percebe-se  que  estes não foram elaborados por especialistas, senão num sentido muito  particular  da  palavra.  Podemos  comprová-lo nas expressões da cultura católica e da civilização cristã,  como  também  nas  de  outras  civilizações que enriqueceram, com seus belos contributos, o precioso acervo  artístico da Cristandade.
    Por  exemplo,  é  inegável  o  valor  de certas obras de arte da China e o  bom gosto que as modelou, conferindo-lhes tal formosura que são dignas  de  figurar,  no  Ocidente,  em  qualquer palácio real, imperial ou mesmo pontifício. Assim, em diversos lugares nos é dado admirar jarros, tapetes, marfins, gravuras, leques e, de  modo todo particular, porcelanas engendrados pelo talento chinês.

    Quanto  a  estas  últimas,  narram  as  crônicas  que  teriam  sido  descobertas pelos jesuítas na China: maravilharam-se com o  produto  e  desejaram  trazê-lo  para  a  cultura  ocidental. Não lograram, porém, que os artistas chineses lhes revelassem a fórmula  e  os  procedimentos  para elaborá-lo.





    Mas,  a  conhecida  sagacidade dos filhos de Santo Inácio não se desarmou  diante  daquela  recusa.  Zelosos apóstolos e astutos observadores, ao exercerem seus trabalhos de missionários junto ao povo, notaram  que  outras  pessoas, mais humildes, também  confeccionavam  porcelana.  Com  finura e tato, eles acabaram  por  obter  da  gente  miúda  o  segredo  dessa  arte  tão  esplendorosa.  Na  primeira  oportunidade,  enviaram  à  Europa a fórmula e  toda  espécie  de  objetos  chineses,  para que os ocidentais  tivessem  ideia das possibilidades de cultura e de civilização que  aquela China lhes oferecia.
    Não tardou muito, e os europeus  começaram  a  fabricar  sua  própria  porcelana.  Surgiram  as  magníficas  peças  francesas,  inglesas,  alemãs  e  outras,  de  extraordinária  categoria,  que logo passaram a competir com  a preferência pelos objetos à base de  metais preciosos. As baixelas de ouro e de prata, até então soberanas,  viram-se  ombreadas  pelos  delicados aparelhos de jantar, pintados em  matizes róseos e níveos, bordejados  de azuis e vermelhos intensos, ornados de pinturas com paisagens bucólicas, com buquês e guirlandas de extremo bom gosto. Bom gosto...









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