• quinta-feira, 18 de maio de 2017

    Desejo de realizar a maravilha na Terra

    Muitas vezes, comentam-se belezas da Europa, como o castelo de Chenonceau, dizendo: “Olhe que gostoso estar aqui!”
    Ora, esse aspecto agradável não é um critério profundo.
    É preciso afirmar o seguinte: “Olhe como é elevado nobre, digno, e como isso engrandece o homem. Não parece até um mundo irreal?!” Esse mundo “irreal” é a imagem do Céu.
    Desejo de realizar a maravilha na Terra
    Deve-se acentuar que esses são valores religiosos, por causa do aspecto simbólico que tais coisas têm. O Paraíso celeste, considerado na sua realidade material, é um lugar onde Deus fez coisas magníficas para o homem viver imerso num mundo da matéria que lhe fala de Deus, enquanto sua alma goza da visão beatífica. Tão necessário é ao homem alimentar o seu espírito com Deus, não só na consideração das coisas diretas da Religião, mas a propósito do mundo temporal e do mundo da matéria, que até no Céu isso vai ser assim.
    Precisamos compreender, portanto, que houve uma virtude, levada pelo europeu medieval a um grau inimaginável, que foi exatamente o desejo de realizar a maravilha na Terra.
    Aliás, aqueles monumentos gregos tinham isto de interessante: exprimiam o desejo de fazer um Olimpo na Terra. As construções dos gregos são mais feitas para serem habitadas por semideuses do que por homens. Havia uma certa ideia de fazer um mundo de maravilha. De sorte que a Europa é uma espécie de mito realizado, e que a Religião Católica elevou a um seminário do Céu.
    A maior maravilha da Europa, por onde propriamente era maravilhosa, não consistia tanto no fruto produzido e deixado por ela, mas no espírito europeu, o contato com as almas sedentas de maravilhoso, nas quais se sentia muito mais isso do que naquilo por elas realizado, porque o efeito é sempre menor do que a causa. Os homens e a sociedade que elaboraram essas maravilhas tinham-nas em quantidade enormemente maior do que as coisas por eles deixadas.
    Devemos, pois, procurar conhecer essa alma e considerar tais belezas como fator de santidade, como atmosfera orientada ao Reino de Maria, e imergir no lado religioso da questão, porque esse é o aspecto mais profundo.
    Portanto, ver como do Sangue infinitamente precioso de Nosso Senhor Jesus Cristo, das lágrimas de Nossa Senhora se gerou, pela correspondência à graça, um mundo inteiro apetente disso.
    Assim nós temos a visualização completa e mais profunda, pois toca no religioso, no sacral, reconhecendo e afirmando que nada é válido, nada é autêntico se não brotar de uma verdadeira visão da Religião Católica, que os santos tiveram nos seus conventos, nas suas Ordens religiosas, enfim, nas instituições da Santa Igreja Católica.
    Nessa perspectiva, compreendemos que Versailles, por exemplo – nos seus bons aspectos, pois ali nem tudo era bom... –, estava presente na alma de São Luís IX, de São Vicente de Paula, que viveu no tempo de Luís XIII, dos santos que existiram na época de Luís XIV. Porque, em seus aspectos virtuosos, Versailles nasceu da Igreja – receptáculo e fonte de todas as virtudes – e, enquanto tal, tinha de estar contido no espírito, na mentalidade e no modo de ser das instituições e dos homens sagrados, que incutiram naquela gente o espírito católico.
    Essa junção entre a Europa e a Religião Católica me fala à alma até o fundo e é indispensável para compreender a História da Igreja. Desse modo, temos uma visão católica da Europa e uma perspectiva da Igreja meditada em função da obra realizada por ela, o que proporciona um alargamento da própria visão da Esposa de Cristo.

    Plinio Corrêa de Oliveira – texto extraído da Revista Dr Plinio 228.

    Nenhum comentário: