Suave
rampa numa de suas vertentes, escarpado rochedo na outra, o Pão de Açúcar evoca
muitos aspectos da natureza brasileira, rica em contrastes, e pode bem
simbolizar o progresso da alma humana rumo ao pico da existência, o Céu.
O Pão
de Açúcar... Quem não conhece o Pão de Açúcar? Este colossal monumento ergue-se
no pórtico de um dos mais belos panoramas do mundo, despertando encanto e
admiração em todos quantos o contemplam.
Sua
presença domina a Baía da Guanabara e se diria que as águas do Atlântico, ao se
aproximarem dele, vão-se amainando até entrarem na baía inteiramente
tranquilas, quase sorridentes.
Cumpre
notar o papel da forma e das proporções para se compreender a harmonia deste
monumento natural. Se toda a sua massa granítica se distribuísse por igual, de
modo a formar um gigantesco cubo ou paralelepípedo, não é verdade que nos
sentiríamos, por assim dizer, achatados ao vê-lo? Não nos atrairia.
Entretanto,
justamente por sua forma característica tornou-se ele um dos símbolos de nossa
Terra de Santa Cruz: constituída por uma base larga, firmemente cravada no
continente, vai-se estreitando com elegância à medida que se eleva, até
terminar num belvedere, privilegiado ponto de contemplação de deslumbrante
paisagem.
A encosta
voltada para a entrada da baía sobe como suave rampa, convidando o
excursionista a chegar ao seu termo, para dali contemplar o portentoso
panorama. Já a outra vertente, pelo contrário, oferece o desafio de um penhasco
a ser vencido por arrojados alpinistas, exercitando na escalada suas
habilidades e tenacidade, na expectativa de, uma vez conquistado o pináculo, lá
de cima usufruírem de sua vitória.
Este
duplo aspecto, ao mesmo tempo acessível e desafiante, não nos lembra tantas
coisas do Brasil?
País de
contrastes nem sempre harmônicos, de uma natureza variada e, em muitas regiões,
até exuberante, esta terra inicialmente levanta para quem nela se adentra
penhascos à maneira do Pão de Açúcar. Entretanto, uma vez vencidos esses
desafios — com os recursos de que a Providência dotou o povo brasileiro, entre
os quais o famoso “jeitinho” — uma natureza amiga nos acolhe.
Podemos
tirar destas considerações alguma lição?
Sim. As
duas vertentes do Pão de Açúcar simbolizam duas fases que se alternam na vida
espiritual de todo homem. Em certos períodos, subimos pela rampa suave das
consolações. Em outros, ao contrário, temos de escalar o penhasco desafiante
das provações. Quer nos encontremos num, quer no outro, o importante é não
olhar para trás e não perder de vista o alvo a atingir, o belvedere do qual
poderemos descortinar, não a fascinante paisagem da Baía de Guanabara, mas o
celestial panorama onde veremos face a face Aquele que será nossa recompensa
demasiadamente grande.
Esta é,
aliás, a lição dada pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo no Evangelho: “Quem
põe a mão no arado e olha para trás, não é apto ao Reino de Deus” (Lc 9, 62). E
por São Paulo: “Não pretendo dizer que já alcancei (esta meta) e cheguei à
perfeição. (...) Consciente de não tê-la ainda conquistado, só procuro isto:
prescindindo do passado e atirandome ao que resta para a frente, persigo o
alvo, rumo ao prêmio celeste, ao qual Deus nos chama, em Jesus Cristo” (Fl 3,
12-14).
Que o
maternal auxílio de Maria Santíssima nos alcance esta graça.
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